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Avisos iniciais

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2015-01-15

Fator de corte – esse incompreendido conceito

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Esse texto foi revisado e publicado novamente no novo espaço:

Rotineiramente encontro, seja nas conversas entre fotógrafos ou nos espaços relacionadas a trocas de conhecimento sobre fotografia nas redes sociais virtuais(*), dúvidas relacionadas ao conceito do fator de corte e o que ele significa realmente. 

Um pouco de história
Primeiramente devemos entender que existiu, na fotografia, creio que a partir do inicio da década de 1970, a popularização e predomínio absoluto (entusiastas amadores, fotojornalismo, cobertura de eventos, entre outras com exceção, somente, do ramo da publicidade) do uso de câmeras de filme no formato 135 (conhecido como 35mm). Esse tipo de filme apesar da grande popularidade “tardia”, existe dede a década de 1930, dominou o mercado de fotografia.
Um pouco mais tarde, com o advento da fotografia digital, se percebeu que fabricar um sensor grande como um fotograma gerado por uma câmera de filme tipo 135 seria caro (provavelmente). Então, optou-se por fabricar sensores menores que o fotograma, surgindo o formato APS-C, que mantinha compatibilidade com o tamanho do fotograma dos cartuchos APS (tentativa de substituir os cartuchos 135). Outro fator de se fazer sensores menores é que as lentes (na época) não projetavam a imagem muito bem nas bordas – o facho de luz não é perpendicular a superfície do sensor ou filme – causando além de aberrações nas bordas (comum aos filmes) uma menor captação da luz pelos fotorreceptores terem alinhamento para receber luz na perpendicular da superfície (problema ainda existente com diversas abordagens de solução – assunto para outro texto).

As primeiras câmeras digitais da Canon (parceira com a Kodak) foram as Canon EOS D2000 (Kodak DCS 520) e Canon EOS D6000 (Kodak DCS 560) de 1999, sendo ambas adaptações de um back digital numa Canon EOS 1N. Já a primeira Digital Nikon foi a Nicon 1D, ambas com versões de sensor em tamanho APS-C. 

O fator de corte
Como essas câmeras utilizavam as mesmas lentes que suas respectivas linhas de filme e sendo o sensor menor que o fotograma, as imagens resultantes apresentavam apenas uma parte do campo de visão possível para a lente (ainda é assim). Sendo necessário ter a informação de quanto o campo de visão foi diminuído.

Somando a isso, o fato de que um sensor menor é exatamente igual a se pensar num corte no fotograma, temos o termo fator de corte surgindo. Esse número é a relação entre os tamanhos do fotograma do filme 135 (ou sensor full-frame) e o tamanho do sensor menor (APS-C). Essa relação é a mesma que pode ser aplicada, como um multiplicador, ao comprimento focal da lente de forma a se ter uma referência da redução do campo de visão na imagem. 

A confusão
O fator de corte a ser aplicado ao comprimento focal é somente uma forma de se ter a noção de qual o campo de visão se obtêm ao se utilizar a lente no tamanho menor de sensor, de forma que se usarmos uma câmera de filme (ou sensor full-frame) com a lente de comprimento focal igual à multiplicação do comprimento focal real pelo fator, teremos o mesmo ângulo de visão coberto na imagem resultante. Mas, com o tempo, essa informação foi sendo propagada como apenas a equivalência do comprimento focal e depois algumas pessoas passaram a crer e divulgar que uma lente de certo comprimento focal passa a ter o comportamento de uma de comprimento focal maior (no fator multiplicativo) quando usado no sensor menor.

É importante notar que a lente não modifica, só temos uma área de cobertura menor, sem modificar nada dos outros fatores que uma lente implica (a geometria ótica da lente não se modifica) na imagem.

Então, apesar de termos um campo de visão equivalente a uma lente de maior comprimento focal (quando usada em filme 135 ou sensor full-frame), a deformação esférica, a aproximação (ou afastamento) dos planos(***) e a distância hiperfocal (relação de onde teremos a profundidade de campo) não sofrerá modificação alguma.

Assim, quando pegamos uma lente 50mm e usamos numa câmera com sensor APS-C, não teremos todas as características de uma lente 80mm (Canon – fator de corte 1.6) ou 75mm (Nikon – fator de corte 1,5) usada numa câmera de filme ou sensor full-frame. Uma lente de comprimento focal maior, trará maior aproximação de planos(***) e terá menos aberração esférica(**) (deformação na imagem). Ainda, se mantivermos as outras variáveis (distância do objeto fotografado e abertura do diafragma), teremos a mesma profundidade de campo.

Com isto, ao usar uma lente 80 mm (não temos no mercado) numa câmera Canon full-frame (uma 5D Mark II, por exemplo) e uma lente 50 mm numa câmera Canon APS-C (uma 7D, por exemplo), estando a mesma distância do objeto (imagine um retrato), teremos fotos diferentes. Apesar do comprimento focal equivalente (ou campo de visão coberto pela imagem) ser o mesmo, haverá diferença na aproximação dos planos(***) e menos arredondamento de bordas (uma lente 80mm – pense na 85mm – tende a ter menos aberração esférica que uma 50mm), produzindo um rosto (se for um retrato) mais bonito na foto. Também teremos a questão do desfoque, que mesmo com a mesma abertura em ambas as lentes, teremos um maior desfoque de fundo na foto da lente de maior comprimento focal. 

Mais confusão
Essa questão do desfoque (ou profundidade de campo rasa), também é outro ponto de confusão, pois é comum as pessoas compararem o desfoque entre uma câmera full-frame e APS-C, fazendo fotos com variáveis diferentes. Comparam uma foto feita com uma câmera full-frame em condições diferentes da foto feita com a câmera APS-C, pois tentam manter o campo de visão. Mas, ao se afastar (o mesmo valor que o fator de corte) do objeto fotografado para aumentar o campo de visão temos mudança de uma das variáveis que influenciam na profundidade de campo (a distância do objeto), fazendo com que tenhamos menos desfoque, na foto feita com a câmera APS-C, para a mesma abertura utilizada.

Se compararmos as fotos usando os mesmos parâmetros (ignorando o campo de visão) veremos que uma câmera full-frame não retorna maior desfoque de fundo. Isso só ocorrerá se nos afastarmos (para a foto com a câmera APS-C) de forma a manter constante o campo de visão que é justamente o que diferencia um sensor full-frame de um APS-C. 

Finalizando
Devemos sempre lembrar que um sensor menor, mantidas todas as outras condições da fotografia, não tem como influenciar em nada além do campo de visão na imagem final resultante. Um sensor menor é o mesmo que cortarmos a imagem de um sensor full-frame (ou cortarmos o negativo). Todas as outras características óticas da lente são preservadas, não havendo distinção alguma entre as imagens além do campo de visão. 

Indo além
É fácil para os usuários de câmeras Nikon que possuam ambas as câmeras (uma full-frame e uma cropada) e alguma lente DX fazerem o teste da questão da profundidade de campo constante desde que se mantenham as variáveis que influem na questão (distância do objeto, abertura de diafragma e comprimento focal). Use um tripé e coloque a câmera cropada com a lente e faça a foto de algum objeto. Depois, sem mover o objeto e o tripé, troque a câmera pela full-frame com a mesma lente e faça a mesma foto (ao usar uma lente DX numa câmera full frame a câmera irá cortar a imagem para que a mesma fique compatível com a área de projeção da lente). O resultado será que ambas as fotos terão a mesma profundidade de campo apresentada, diferenciando apenas na resolução que será menor, na imagem da câmera full-frame (se não estiver usando uma APS-C antiga e com pouca resolução), devido ao corte.

Fico por aqui, por hoje. Num próximo texto devo abordar a questão das diferenças entre lentes EF-S/EF da Canon ou DX/FX da Nikon. Também tratando um pouco das características das lentes que levam a não ser vantagem usar uma lente construída para médio formato numa câmera do padrão de filme 135 (seja sensor full-frame ou APS-C), por melhor que seja a lente.

Até o próximo texto.

Flávio RB
_ 
(*) Considero redes sociais virtais qualquer ambiente para conversa e troca de ideias entre os membros, desde os fóruns de discussão (com todo o poder de divisão de seções e perenidade e busca das informações) até um limitado grupo dentro do Facebook ou do WhatsApp.
(**) Não é somente o comprimento focal que determina a aberração esférica, quantidade e formato dos elementos, além de presença de elementos corretores, podem fazer com que uma lente de comprimento focal menor tenha menos aberração esférica que uma de comprimento focal maior.
(***) Não existe de fato aproximação ou afastamento de planos quando se usa tele ou grande angular. O que se tem é uma ilusão de ótica quando se tenta obter o mesmo enquadramento se afastando ou se aproximando do objeto fotografado.

2 comentários:

  1. Sempre esclarecedor e de fácil entendimento, por este motivo que sou seu admirador...
    Em relação aos pixels, a granulação que não se tem muito em um sensor Full-freme se dá somente pela questão do sensor, ou a lente influencia muito?

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    Respostas
    1. Grande Edson.

      Eu ainda estou estudando para poder ter uma boa e simples resposta para essa questão.

      Só tenho a falar que granulação é, na minha opinião, algo exclusivo de filmes fotográficos. Não existem em sensor digital. Sensor tem ruido eletrônico.

      Lentes não influenciam no ruido (nem no grão), mas lentes tem resolução que causam problemas de falta de nitidez e esses podem ser confundidos com baixa nitidez devido a grão ou ruído.

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